A busca relacionada a idosos e qualidade de vida é uma preocupação crescente para famílias e profissionais da saúde em todo o Brasil. Mas o que, de fato, contribui para o bem-estar na terceira idade? Saúde física, interação social, autonomia? Para responder a essa pergunta, um estudo aprofundado realizado com 43 residentes de Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) em Natal (RN) oferece insights valiosos e, por vezes, surpreendentes.
A pesquisa, baseada na metodologia WHOQOL-OLD da Organização Mundial da Saúde (OMS), mergulhou nas percepções dos próprios idosos, revelando que a maior insatisfação não vem das perdas naturais da idade, mas da falta de liberdade para tomar as próprias decisões.
Sumário
O Cenário do Envelhecimento e a Institucionalização
O Brasil vive um acelerado processo de envelhecimento populacional. Projeções indicam que, até 2025, o país terá cerca de 34 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Com as mudanças na estrutura familiar moderna, a instituição de longa permanência para idosos (ILPI), também conhecida como casa de repouso ou asilo, surge como uma alternativa de suporte social para aqueles que não possuem apoio domiciliar adequado.
O estudo em questão foi realizado em seis instituições filantrópicas de Natal, que juntas abrigam 266 idosos. A amostra final, composta por 43 participantes com capacidade cognitiva e de comunicação preservada, nos ajuda a entender a complexa equação da qualidade de vida do idoso em um ambiente coletivo.
A nossa pesquisa busca criar um sistema para apoiar a saúde cognitiva dos idosos. Sua participação é anônima, gratuita e ajuda a construir o futuro do cuidado.
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Idosos e qualidade de vida: os 6 Pilares, Segundo a OMS
A pesquisa avaliou seis facetas fundamentais para o bem-estar. Os resultados mostram um quadro de contrastes entre o que se valoriza e o que se perde.
1. Funcionamento Sensorial: Uma Surpreendente Satisfação
Apesar das perdas auditivas e visuais comuns ao envelhecimento, esta foi a área de maior satisfação, com um escore de 68,1%. Isso indica que, com adaptações como o uso de óculos e aparelhos auditivos, os idosos se sentem satisfeitos com sua capacidade de perceber o mundo e interagir com o ambiente.
2. Autonomia: O Ponto Mais Crítico da Insatisfação
Aqui reside o maior desafio. Com o menor escore (40,7%), a faceta da autonomia revela uma profunda insatisfação com a falta de liberdade para tomar decisões pessoais. A rotina padronizada das instituições — com horários fixos para refeições, banho e atividades — restringe as pequenas escolhas do dia a dia, impactando diretamente a sensação de controle sobre a própria vida e a saúde mental do idoso institucionalizado.
3. Atividades Passadas, Presentes e Futuras: A Necessidade de Propósito
Com um nível neutro de satisfação (44,6%), esta dimensão sugere que as conquistas de uma vida inteira e os desejos para o futuro não são suficientemente valorizados no ambiente institucional. A falta de estímulo a projetos e sonhos impacta o senso de propósito.
4. Participação Social e Intimidade: A Neutralidade nos Vínculos
As facetas de Participação Social (48,2%) e Intimidade (50,6%) apontam para uma percepção neutra. Os idosos não se sentem nem totalmente engajados em atividades sociais, nem completamente isolados. O mesmo se aplica aos vínculos pessoais e afetivos, que ficam em um limbo emocional.
5. Morte e Morrer: O Papel da Espiritualidade
Com um escore relativamente alto (65,5%), a satisfação nesta área pode estar ligada à aceitação e ao conforto proporcionados pela fé. No estudo, 99% dos entrevistados afirmaram ter uma crença religiosa, o que oferece um importante suporte emocional para lidar com a finitude da vida.
Estamos desenvolvendo um modelo informatizado para o monitoramento de indicadores cognitivos em idosos. Sua expertise profissional é vital; participe de forma anônima e gratuita.
Diagnóstico Geral: Qualidade de Vida “Neutra” Exige Ação
O escore global da pesquisa foi de 52,9%, classificando a qualidade de vida dos idosos como “nem satisfatória nem insatisfatória”. Esse resultado reflete uma acomodação à rotina e, em grande parte, uma resignação diante das limitações impostas.
Essa neutralidade é um sinal de alerta. Ela mostra que, para melhorar o bem-estar, é preciso ir além do cuidado básico e focar em aspectos que devolvam o protagonismo a quem viveu uma longa história.

Como Melhorar a Qualidade de Vida dos Idosos? 5 Ações Práticas
Com base nos achados do estudo, é possível traçar um caminho para humanizar o cuidado, seja em instituições ou mesmo no ambiente familiar. As seguintes ações são fundamentais:
- Estimular a Autonomia no Dia a Dia: Flexibilizar rotinas sempre que possível. Permitir que o idoso escolha sua roupa, o que deseja comer (dentro das possibilidades) ou o horário de suas atividades pessoais. Respeitar os direitos dos idosos em casas de repouso é o primeiro passo.
- Criar Atividades com Significado: Promover oficinas de reminiscência para valorizar as histórias de vida, organizar projetos colaborativos e perguntar sobre seus desejos e aspirações. [Sugestão de link interno para: Atividades para estimular a memória de idosos].
- Fortalecer os Vínculos Afetivos: Incentivar eventos que promovam a interação, como festas, grupos de apoio e encontros intergeracionais. O sentimento de pertencimento é vital para a saúde mental.
- Ampliar a Estimulação Sensorial: Além das tecnologias assistivas, promover atividades que estimulem todos os sentidos, como musicoterapia, jardinagem ou oficinas de culinária.
- Oferecer Suporte Espiritual e Emocional: Respeitar e fortalecer as práticas religiosas individuais e criar espaços seguros para conversar sobre a vida, os medos e a finitude.
Olhar Além dos Números: Humanizando o Cuidado ao Idoso
No fim, cada número deste estudo representa uma vida, com suas memórias, perdas e desejos. A verdadeira melhora na qualidade de vida dos idosos não virá apenas de melhores instalações, mas de um cuidado que enxergue o indivíduo por trás da idade. O grande desafio é traduzir esses dados em ações concretas, devolvendo o sentido, a liberdade e o protagonismo a quem tanto tem a nos ensinar.
Fonte: DE ARAÚJO NUNES, Vilani Medeiros; DE MENEZES, Rejane Maria Paiva; ALCHIERI, João Carlos. Avaliação da qualidade de vida em idosos institucionalizados no município de Natal, Estado do Rio Grande do Norte. Acta Scientiarum. Health Sciences, v. 32, n. 2, p. 119-126, 2010.
Nosso estudo está criando uma forma de monitorar a saúde cognitiva e o bem-estar dos idosos. A sua ajuda, anônima e gratuita, é o que torna esta pesquisa possível.



