A breve jornada da independência na terceira idade revela-se em cada atividade cotidiana: alimentar‑se, vestir‑se, locomover‑se e cuidar de si com autonomia. Um estudo realizado em 2012 numa instituição de longa permanência para idosos em Natal (RN) lançou luz sobre como a perda funcional se distribui entre aqueles que nela residem. A pesquisa de Azevedo et al. examinou o perfil de 48 moradores, identificando os pontos de fragilidade física e cognitiva que condicionam a dependência e orientam estratégias de cuidado centradas na qualidade de vida .
Entendendo a capacidade funcional
Capacidade funcional refere‑se à habilidade de manter as atividades de vida diária sem auxílio – um indicador crucial de saúde e autonomia na velhice. Com o aumento da longevidade, doenças crônico‑degenerativas se tornam mais prevalentes, limitando essas funções básicas e aumentando a necessidade de assistência . Avaliar essa capacidade permite não apenas mapear riscos individuais, mas também direcionar intervenções preventivas e reabilitadoras.
Como foi feita a pesquisa
Em caráter descritivo e quantitativo, o estudo aplicou entrevistas, o Índice de Katz e o Mini Exame do Estado Mental (MEEM) a 48 dos 108 idosos inicialmente considerados, excluindo‑se aqueles com comprometimento cognitivo severo. O Índice de Katz avalia seis funções diárias – banho, vestir, ir ao banheiro, transferir‑se, continência e alimentação – classificando os indivíduos como independentes, parcialmente dependentes ou totalmente dependentes . Essa combinação de ferramentas robustas garantiu que os dados refletissem tanto o estado físico quanto o cognitivo, essenciais para entender as nuances da dependência.
Principais achados
Os resultados apontaram que a maior parte dos participantes mantinha elevado grau de independência em ao menos cinco das seis tarefas avaliadas, sugerindo que muitos residentes ainda conservam boa autonomia. No entanto, identifica‑se um grupo relevante com dependência parcial ou total, sobretudo nas atividades mais complexas de vestir‑se e banhar‑se. As mulheres, especialmente na faixa acima de 80 anos, apresentaram maiores índices de dependência quando comparadas aos homens, evidenciando diferenças de gênero no envelhecimento saudável. Curiosamente, os idosos mais velhos (80–89 anos) mostraram, em média, mais independência do que faixas etárias ligeiramente inferiores, um dado que contraria a expectativa de declínio uniforme com a idade .
Por que isso importa
Compreender onde ocorrem as maiores dificuldades cotidianas em idosos institucionalizados é fundamental para profissionais de saúde e familiares. Estratégias de promoção de mobilidade, exercícios dirigidos e estímulos cognitivos podem ser planejados com base nesses perfis, retardando o avanço da dependência e promovendo bem‑estar. Além disso, o uso sistemático de instrumentos como Katz e MEEM facilita o diálogo entre equipes multiprofissionais, assegurando que cada mudança funcional seja registrada e acompanhada ao longo do tempo .
Por fim, a pesquisa evidencia que envelhecer com autonomia não é apenas questão de idade, mas de contextos sociais, econômicos e de estímulo constante. Ao mapear perdas e competências, este estudo orienta a criação de ambientes mais promotores de independência, onde cada idoso possa conservar ao máximo sua dignidade e qualidade de vida.
Citação do artigo:
DE ARAÚJO NUNES, Vilani Medeiros; DE MENEZES, Rejane Maria Paiva; ALCHIERI, João Carlos. Avaliação da qualidade de vida em idosos institucionalizados no município de Natal, Estado do Rio Grande do Norte. Acta Scientiarum. Health Sciences, v. 32, n. 2, p. 119-126, 2010.




