Autor: Prof. Dr. João Carlos Alchieri

  • Teste Cognitivo Online: A Tecnologia no Cuidado com Idosos

    Teste Cognitivo Online: A Tecnologia no Cuidado com Idosos

    Você já se pegou observando um familiar idoso e se perguntando: “Isso é apenas um esquecimento normal da idade ou algo mais sério?”. Essa é uma dúvida silenciosa que assombra milhões de lares. O Brasil envelhece em um ritmo acelerado – segundo projeções, até 2030 teremos mais pessoas com 60 anos ou mais do que crianças de até 14 anos. Com essa transformação demográfica, a necessidade de ferramentas eficazes para o cuidado da saúde mental se torna urgente.

    A incerteza sobre a saúde cognitiva de quem amamos gera ansiedade e, muitas vezes, paralisia. A linha entre o envelhecimento natural e os primeiros sinais de um processo demencial, como o Alzheimer, pode ser tênue e confusa. É nesse cenário que um teste de rastreio cognitivo para idosos surge não apenas como uma ferramenta, mas como um ponto de partida para a clareza e a ação.

    Neste artigo, vamos mergulhar em uma das maiores inovações da área: a tecnologia digital aplicada ao rastreio cognitivo. Você descobrirá como uma ferramenta validada por pesquisadores brasileiros, o ISP-16, está quebrando barreiras e tornando a avaliação inicial mais simples, rápida e acessível para todos.

    O Dilema Silencioso: Por Que o Rastreio Cognitivo Tradicional é um Desafio?

    Imagine tentar diagnosticar um problema complexo em um motor usando apenas a audição. Você pode notar um ruído estranho, uma vibração diferente, mas sem as ferramentas certas, sua avaliação será sempre uma suposição. Por muito tempo, a avaliação inicial do declínio cognitivo em idosos funcionou de maneira semelhante.

    O processo tradicional frequentemente envolve:

    • Observações Subjetivas: Relatos de familiares que, embora valiosos, podem ser influenciados pela emoção ou pela falta de conhecimento técnico.
    • Longas Filas de Espera: Acessar um especialista em neuropsicologia pode levar meses, um tempo precioso quando se trata de condições progressivas.
    • Estigma e Resistência: Muitos idosos resistem à ideia de uma avaliação formal, temendo o diagnóstico ou sentindo-se constrangidos.
    • Barreiras Culturais e de Escolaridade: Muitos testes internacionais não são adequadamente adaptados para a realidade brasileira, especialmente para populações com menor nível de escolaridade, o que pode gerar resultados imprecisos.

    Esses obstáculos criam um abismo entre a percepção de um problema e a busca por ajuda qualificada. Muitas famílias acabam adiando a conversa, esperando que os sinais desapareçam, quando, na verdade, a detecção precoce é o fator mais crucial para um melhor manejo e planejamento de cuidados.

    Participe da criação de uma ferramenta que otimiza a avaliação da adesão terapêutica em idosos. Sua colaboração é anônima, gratuita e essencial para a prática clínica.

    A Revolução Digital: O que é o Teste de Rastreio Cognitivo para Idosos ISP-16?

    É aqui que a tecnologia entra em cena como uma poderosa aliada. O Inventário de Sintomas Pré-Frontais (ISP-16) não é mais um teste complicado ou intimidador. Pelo contrário, é uma ferramenta digital, baseada em um questionário de 16 perguntas, desenhada para ser rápida, intuitiva e, o mais importante, validada cientificamente para a população brasileira.

    Mas por que o foco no “pré-frontal”?

    Pense no córtex pré-frontal como o “CEO” do nosso cérebro. Ele é a área responsável por funções executivas complexas:

    • Planejamento e organização do futuro.
    • Tomada de decisões.
    • Controle de impulsos e emoções.
    • Iniciativa e motivação.
    • Flexibilidade para mudar de assunto ou de tarefa.

    O estudo de referência destaca que esta é uma das primeiras áreas do cérebro a serem afetadas pelo processo de envelhecimento e por condições demenciais. Portanto, ao invés de focar apenas na memória (o sintoma mais famoso), o ISP-16 investiga mudanças de comportamento que são indicadores precoces e sutis de que o “CEO” do cérebro pode não estar funcionando em sua capacidade máxima.

    É crucial entender: o ISP-16 não é um diagnóstico. Ele é uma ferramenta de rastreio. Sua função é acender um sinal de alerta, quantificar observações e fornecer dados concretos para que famílias e profissionais de saúde possam dar o próximo passo com mais segurança.

    Os 5 Benefícios Imediatos da Tecnologia no Rastreio Cognitivo

    A transformação de um questionário em uma ferramenta web não é apenas uma modernização; é uma mudança de paradigma que resolve muitos dos desafios do método tradicional. O estudo sobre o ISP-16 evidencia vantagens claras que a tecnologia proporciona:

    1. Rapidez e Agilidade: Esqueça o papel e a caneta. O teste online pode ser preenchido em minutos. Os resultados são processados instantaneamente, transformando meses de espera em uma avaliação imediata. Isso permite uma intervenção muito mais rápida.
    2. Padronização e Consistência: A tecnologia garante que cada pessoa responda exatamente às mesmas perguntas, da mesma forma. Isso elimina o viés do aplicador e a “latência do examinador” (o tempo que o profissional leva para anotar a resposta), garantindo que os dados coletados sejam puros e comparáveis.
    3. Redução Drástica de Erros: O sistema automatizado calcula a pontuação sem chance de erro humano. Isso garante que a análise seja precisa e confiável, um fator essencial para uma avaliação tão delicada.
    4. Acessibilidade e Redução de Custos: Uma ferramenta digital pode ser acessada de um posto de saúde, de uma clínica ou até mesmo da residência do idoso, com a devida orientação. Isso democratiza o acesso, especialmente em um país continental como o Brasil, e reduz custos com deslocamento e material impresso.
    5. Dados Estruturados para Profissionais: Para médicos e psicólogos, a plataforma gera relatórios padronizados e organizados. Isso facilita a triagem de pacientes, o monitoramento da evolução ao longo do tempo e a integração dos resultados com outras avaliações clínicas.

    Este estudo quer transformar a experiência de familiares e cuidadores em um modelo de apoio à saúde do idoso. Sua colaboração é anônima, sem custos e leva apenas alguns minutos.

    Além do Resultado: Como Usar as Informações de um Teste de Rastreio?

    Receber o resultado de um teste de rastreio pode gerar a pergunta: “E agora?”. A resposta é o poder da informação direcionada.

    Para as Famílias:
    Muitas famílias se sentem perdidas, sem saber como iniciar uma conversa sobre o tema. Um resultado de rastreio funciona como um organizador de preocupações. Ele transforma a sensação de “algo está errado” em pontos concretos: “Observamos dificuldade em tomar decisões e maior irritabilidade”. Com isso em mãos, a conversa com um médico se torna mais produtiva e menos baseada em achismos.

    Para os Profissionais de Saúde:
    Na linha de frente, em postos de saúde e clínicas, o tempo é escasso. Uma ferramenta como o ISP-16 atua como um sistema de triagem eficiente. Ela ajuda a identificar quais pacientes precisam de uma investigação neuropsicológica mais aprofundada com prioridade, otimizando recursos e garantindo que o cuidado chegue primeiro a quem mais precisa.

    Mas o que, exatamente, o teste observa?

    Sinais de Alerta: Exemplos Práticos do que o ISP-16 Avalia

    O questionário do ISP-16 é composto por afirmações simples sobre o dia a dia. Vejamos três exemplos e o que eles revelam:

    • “Tenho dificuldade em iniciar uma atividade por falta de iniciativa.”
      Isso vai além da preguiça. Reflete uma possível apatia, um sintoma comum de disfunção pré-frontal. É a dificuldade de “dar a partida” em tarefas, mesmo nas que antes eram prazerosas.
    • “Sinto que é difícil decidir ou tomar decisões.”
      Você nota que seu familiar fica paralisado ao escolher o que comer no almoço ou que roupa vestir? Essa indecisão em tarefas simples pode indicar uma sobrecarga na capacidade de planejamento e julgamento do cérebro.
    • “Eu explodo emocionalmente sem motivo aparente.”
      A dificuldade de regular as emoções, com mudanças bruscas de humor (ir do riso ao choro, ou ficar irritado por coisas pequenas), é um forte indicativo de que o “freio” emocional, localizado no córtex pré-frontal, pode estar comprometido.

    Conclusão: Um Futuro de Cuidado Mais Inteligente e Humano

    O envelhecimento da população não é um problema a ser resolvido, mas uma realidade a ser gerenciada com as melhores ferramentas disponíveis. A ansiedade e a incerteza que rondam o declínio cognitivo podem ser combatidas com informação, clareza e ação precoce.

    A tecnologia, através de inovações como o teste de rastreio cognitivo ISP-16, não veio para substituir o cuidado humano, mas para potencializá-lo. Ela nos oferece um caminho mais rápido, preciso e acessível para o primeiro passo, permitindo que famílias e profissionais de saúde ajam de forma proativa, preservando a qualidade de vida e a autonomia de quem amamos pelo maior tempo possível.

    O futuro do cuidado com idosos já começou. E ele é digital, acessível e, acima de tudo, capacitador.

    Se você se identifica com os desafios apresentados, o próximo passo é a informação. Converse com um profissional de saúde e busque artigos e guias de instituições de saúde renomadas para entender melhor as opções de cuidado e avaliação disponíveis para você e sua família.

    Fonte: ALCHIERI, Joao Carlos; FERREIRA, Olivia DL; URQUIJO, Sebastian. Elaboração e análise de evidências psicometricas em instrumento informatizado para identificação de caracteristicas cognitivas demenciais. 2023. (link ao pdf)

    Estamos desenvolvendo um mapa da saúde cognitiva do idoso para guiar melhores tratamentos. Sua participação anônima e gratuita nos ajuda a desenhar este futuro. Quer nos ajudar a construir este modelo?

  • Idosos e Qualidade de Vida: O Que Realmente Importa? Um Estudo Revela

    Idosos e Qualidade de Vida: O Que Realmente Importa? Um Estudo Revela

    A busca relacionada a idosos e qualidade de vida é uma preocupação crescente para famílias e profissionais da saúde em todo o Brasil. Mas o que, de fato, contribui para o bem-estar na terceira idade? Saúde física, interação social, autonomia? Para responder a essa pergunta, um estudo aprofundado realizado com 43 residentes de Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) em Natal (RN) oferece insights valiosos e, por vezes, surpreendentes.

    A pesquisa, baseada na metodologia WHOQOL-OLD da Organização Mundial da Saúde (OMS), mergulhou nas percepções dos próprios idosos, revelando que a maior insatisfação não vem das perdas naturais da idade, mas da falta de liberdade para tomar as próprias decisões.

    O Cenário do Envelhecimento e a Institucionalização

    O Brasil vive um acelerado processo de envelhecimento populacional. Projeções indicam que, até 2025, o país terá cerca de 34 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Com as mudanças na estrutura familiar moderna, a instituição de longa permanência para idosos (ILPI), também conhecida como casa de repouso ou asilo, surge como uma alternativa de suporte social para aqueles que não possuem apoio domiciliar adequado.

    O estudo em questão foi realizado em seis instituições filantrópicas de Natal, que juntas abrigam 266 idosos. A amostra final, composta por 43 participantes com capacidade cognitiva e de comunicação preservada, nos ajuda a entender a complexa equação da qualidade de vida do idoso em um ambiente coletivo.

    A nossa pesquisa busca criar um sistema para apoiar a saúde cognitiva dos idosos. Sua participação é anônima, gratuita e ajuda a construir o futuro do cuidado.

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    Idosos e qualidade de vida: os 6 Pilares, Segundo a OMS

    A pesquisa avaliou seis facetas fundamentais para o bem-estar. Os resultados mostram um quadro de contrastes entre o que se valoriza e o que se perde.

    1. Funcionamento Sensorial: Uma Surpreendente Satisfação

    Apesar das perdas auditivas e visuais comuns ao envelhecimento, esta foi a área de maior satisfação, com um escore de 68,1%. Isso indica que, com adaptações como o uso de óculos e aparelhos auditivos, os idosos se sentem satisfeitos com sua capacidade de perceber o mundo e interagir com o ambiente.

    2. Autonomia: O Ponto Mais Crítico da Insatisfação

    Aqui reside o maior desafio. Com o menor escore (40,7%), a faceta da autonomia revela uma profunda insatisfação com a falta de liberdade para tomar decisões pessoais. A rotina padronizada das instituições — com horários fixos para refeições, banho e atividades — restringe as pequenas escolhas do dia a dia, impactando diretamente a sensação de controle sobre a própria vida e a saúde mental do idoso institucionalizado.

    3. Atividades Passadas, Presentes e Futuras: A Necessidade de Propósito

    Com um nível neutro de satisfação (44,6%), esta dimensão sugere que as conquistas de uma vida inteira e os desejos para o futuro não são suficientemente valorizados no ambiente institucional. A falta de estímulo a projetos e sonhos impacta o senso de propósito.

    4. Participação Social e Intimidade: A Neutralidade nos Vínculos

    As facetas de Participação Social (48,2%) e Intimidade (50,6%) apontam para uma percepção neutra. Os idosos não se sentem nem totalmente engajados em atividades sociais, nem completamente isolados. O mesmo se aplica aos vínculos pessoais e afetivos, que ficam em um limbo emocional.

    5. Morte e Morrer: O Papel da Espiritualidade

    Com um escore relativamente alto (65,5%), a satisfação nesta área pode estar ligada à aceitação e ao conforto proporcionados pela fé. No estudo, 99% dos entrevistados afirmaram ter uma crença religiosa, o que oferece um importante suporte emocional para lidar com a finitude da vida.

    Estamos desenvolvendo um modelo informatizado para o monitoramento de indicadores cognitivos em idosos. Sua expertise profissional é vital; participe de forma anônima e gratuita.

    Diagnóstico Geral: Qualidade de Vida “Neutra” Exige Ação

    O escore global da pesquisa foi de 52,9%, classificando a qualidade de vida dos idosos como “nem satisfatória nem insatisfatória”. Esse resultado reflete uma acomodação à rotina e, em grande parte, uma resignação diante das limitações impostas.

    Essa neutralidade é um sinal de alerta. Ela mostra que, para melhorar o bem-estar, é preciso ir além do cuidado básico e focar em aspectos que devolvam o protagonismo a quem viveu uma longa história.

    idosos e qualidade de vida

    Como Melhorar a Qualidade de Vida dos Idosos? 5 Ações Práticas

    Com base nos achados do estudo, é possível traçar um caminho para humanizar o cuidado, seja em instituições ou mesmo no ambiente familiar. As seguintes ações são fundamentais:

    • Estimular a Autonomia no Dia a Dia: Flexibilizar rotinas sempre que possível. Permitir que o idoso escolha sua roupa, o que deseja comer (dentro das possibilidades) ou o horário de suas atividades pessoais. Respeitar os direitos dos idosos em casas de repouso é o primeiro passo.
    • Criar Atividades com Significado: Promover oficinas de reminiscência para valorizar as histórias de vida, organizar projetos colaborativos e perguntar sobre seus desejos e aspirações. [Sugestão de link interno para: Atividades para estimular a memória de idosos].
    • Fortalecer os Vínculos Afetivos: Incentivar eventos que promovam a interação, como festas, grupos de apoio e encontros intergeracionais. O sentimento de pertencimento é vital para a saúde mental.
    • Ampliar a Estimulação Sensorial: Além das tecnologias assistivas, promover atividades que estimulem todos os sentidos, como musicoterapia, jardinagem ou oficinas de culinária.
    • Oferecer Suporte Espiritual e Emocional: Respeitar e fortalecer as práticas religiosas individuais e criar espaços seguros para conversar sobre a vida, os medos e a finitude.

    Olhar Além dos Números: Humanizando o Cuidado ao Idoso

    No fim, cada número deste estudo representa uma vida, com suas memórias, perdas e desejos. A verdadeira melhora na qualidade de vida dos idosos não virá apenas de melhores instalações, mas de um cuidado que enxergue o indivíduo por trás da idade. O grande desafio é traduzir esses dados em ações concretas, devolvendo o sentido, a liberdade e o protagonismo a quem tanto tem a nos ensinar.

    Fonte: DE ARAÚJO NUNES, Vilani Medeiros; DE MENEZES, Rejane Maria Paiva; ALCHIERI, João Carlos. Avaliação da qualidade de vida em idosos institucionalizados no município de Natal, Estado do Rio Grande do Norte. Acta Scientiarum. Health Sciences, v. 32, n. 2, p. 119-126, 2010.

    Nosso estudo está criando uma forma de monitorar a saúde cognitiva e o bem-estar dos idosos. A sua ajuda, anônima e gratuita, é o que torna esta pesquisa possível.

  • O Perigo Silencioso no Prato: Como a Má Alimentação do Idoso Ameaça a Saúde

    O Perigo Silencioso no Prato: Como a Má Alimentação do Idoso Ameaça a Saúde

    alimentação do idoso é um pilar fundamental para a saúde, mas um alarme silencioso está soando nos lares e instituições de longa permanência por todo o Brasil. Ele não vem de um equipamento médico, mas do prato de comida. Uma pesquisa contundente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), realizada com 243 idosos, revelou uma verdade chocante: quase 90% dos idosos avaliados apresentam algum nível de risco nutricional.

    Este não é apenas um número. É um alerta vermelho piscando para filhos, netos, cuidadores e profissionais de saúde. A nutrição adequada, muitas vezes negligenciada, é o que sustenta a força, imunidade e independência na terceira idade. E, como o estudo demonstra, esse pilar está ruindo para a esmagadora maioria.

    A pergunta que ecoa é inevitável e pessoal: o seu pai, sua mãe ou seu avô está realmente seguro?

    Os Riscos na Alimentação do Idoso: Os Números do Estudo

    O estudo, publicado no Journal of Health Sciences Institute, não deixa margem para dúvidas. Os pesquisadores foram a campo e o que encontraram é um retrato da vulnerabilidade. Dos idosos avaliados:

    • 42,38% foram classificados com ALTO risco nutricional. Isso significa que precisam de uma intervenção médica e nutricional imediata.
    • 46,91% apresentaram risco nutricional MODERADO. Eles estão na zona de perigo, necessitando de uma reavaliação e ajustes urgentes na sua dieta.

    Somados, esses números formam um quadro desolador: 89,29% da população estudada está em rota de colisão com complicações de saúde graves, todas diretamente ligadas à alimentação nos idosos.

    A nossa pesquisa busca criar um sistema para apoiar a saúde cognitiva dos idosos. Sua participação é anônima, gratuita e ajuda a construir o futuro do cuidado.

    O Mito do “Gordinho Saudável”: Por Que o Peso Pode Enganar

    Aqui reside a armadilha mais perigosa. Muitos de nós associamos magreza à doença e um “pesinho a mais” à saúde. O estudo quebra esse mito de forma brutal: dos idosos avaliados, mais de 52% apresentavam sobrepeso ou obesidade.

    Como isso é possível? A resposta está na diferença entre quantidade e qualidade. “Risco nutricional” não significa passar fome. Significa que o corpo não está recebendo os tijolos fundamentais para sua manutenção: proteínas, vitaminas, minerais e fibras. A alimentação em idosos pode ser rica em calorias vazias, mas pobre nos nutrientes que realmente importam.

    Esse fenômeno é conhecido como obesidade sarcopênica. O idoso perde massa muscular e a substitui por gordura. O resultado é um corpo mais fraco, inflamado e suscetível a:

    • Quedas: Músculos fracos não conseguem sustentar o corpo, tornando qualquer tropeço uma potencial fratura de fêmur.
    • Infecções: Um sistema imunológico desnutrido não tem armas para lutar contra vírus e bactérias, transformando um simples resfriado em uma pneumonia.
    • Feridas que não cicatrizam: A falta de proteínas e vitaminas impede a regeneração da pele.
    • Perda de autonomia: A fraqueza generalizada leva à dependência para tarefas básicas como tomar banho ou caminhar.

    A correta alimentação para os idosos é, portanto, o principal fator de prevenção contra essa cascata de problemas.

    Fatores que Complicam a Alimentação do Idoso

    O estudo também nos dá pistas sobre o “porquê” dessa crise. A maioria dos idosos avaliados era do sexo feminino (70,78%), viúvas ou solteiras (78,19%) e com baixo grau de escolaridade.

    Imagine o cenário: uma senhora que passou a vida cozinhando para a família agora vive só. A motivação para preparar uma refeição completa desaparece. Um prato de pão com café se torna a norma.

    Some a isso as dificuldades físicas da alimentação no idosoperda de dentes que dificulta a mastigação, alterações no paladar que tornam a comida sem graça, e problemas de deglutição (disfagia) que causam medo de engasgar. A escolha de alimentos torna-se limitada, repetitiva e, consequentemente, pobre em nutrientes.

    Estamos desenvolvendo um modelo informatizado para o monitoramento de indicadores cognitivos em idosos. Sua expertise profissional é vital; participe de forma anônima e gratuita.

    Sinais de Alerta na Alimentação do Idoso: Um Checklist de 5 Pontos

    Não espere pela próxima consulta médica. Como familiar ou cuidador, você é a primeira linha de defesa. Use este checklist simples para uma “avaliação de primeiros socorros” sobre a alimentação idosos:

    1. As Roupas Estão Largas? A perda de peso não intencional é o sinal de alerta número um. Se o cinto precisa de um novo furo ou as calças estão sobrando, investigue.
    2. O Prato Volta Cheio? Observe as sobras. A perda de apetite ou a recusa de alimentos que antes eram apreciados é um sintoma grave. Não aceite “não estou com fome” como resposta.
    3. Cansaço Extremo e Desânimo? A falta de energia para atividades simples, como uma caminhada leve, pode ser um sinal direto de deficiência nutricional.
    4. Queixas sobre a Boca ou para Engolir? Preste atenção a comentários como “essa carne está dura”. Pode indicar problemas dentários ou de deglutição.
    5. Aparecimento de Feridas ou Manchas Roxas? Uma pele que se machuca facilmente ou feridas que demoram a cicatrizar indicam que o corpo não tem os nutrientes para se reparar.

    Se você marcou “sim” para qualquer um desses itens, a hora de agir é agora.

    A Solução no Prato: Como Melhorar a Alimentação do Idoso

    A mensagem do estudo é um soco no estômago, mas também um chamado à ação. A boa notícia é que a desnutrição é reversível. A alimentação do idoso pode e deve ser ajustada, enriquecida e transformada em uma poderosa ferramenta de saúde.

    Converse com seu familiar. Observe suas refeições. Se notar qualquer um dos sinais de alerta, não hesite. Procure um médico ou, idealmente, um nutricionista. Pequenas mudanças – como enriquecer sopas com proteínas, oferecer suplementos sob orientação e adaptar a textura dos alimentos – podem fazer uma diferença monumental.

    A qualidade de vida na terceira idade não é uma questão de sorte. Ela é construída, garfada por garfada. Ignorar o perigo silencioso no prato é sentenciar nossos idosos a um futuro de fragilidade e dependência. A escolha de lutar por eles, garantindo uma nutrição digna e eficaz, é nossa.

    Fonte: AZEVEDO, Elen Alanne Medeiros et al. Avaliação nutricional de idosos residentes em instituições filantrópicas. J Health Sci Inst, v. 32, n. 3, p. 260-264, 2014. (link ao pdf)

    Nosso estudo está criando uma forma de monitorar a saúde cognitiva e o bem-estar dos idosos. A sua ajuda, anônima e gratuita, é o que torna esta pesquisa possível.

  • Descobrindo o que nos move: razões que levam não‑atletas a praticar atividade física

    Descobrindo o que nos move: razões que levam não‑atletas a praticar atividade física

    A prática regular de atividade física traz inúmeros benefícios à saúde, mas entender o que realmente motiva as pessoas a sair do sedentarismo é fundamental para criar estratégias eficazes de promoção de hábitos saudáveis. Gonçalves e Alchieri (2010) investigaram esse tema em 309 praticantes não‑atletas de Natal (RN), aplicando a escala MPAM‑R, que avalia cinco motivos: Saúde, Diversão, Aparência, Competência e Social. Os resultados revelaram a Saúde como principal fator motivacional, seguidos por Diversão, Aparência e Competência, com o aspecto Social ficando em último lugar. Este artigo explora em detalhes essas descobertas, relacionando‑as a variáveis demográficas e ao tipo de atividade praticada. ​

    1. Fatores que impulsionam a adesão à atividade física

    A Teoria da Autodeterminação, base para a escala MPAM‑R, distingue motivações intrínsecas (como Diversão e Competência) de extrínsecas (como Saúde e Aparência). No estudo, a média mais alta no fator Saúde indica que a busca por bem‑estar físico e prevenção de doenças é o principal motor para a maioria dos participantes. A importância da Saúde como motivação primária está alinhada com dados da Organização Mundial da Saúde sobre redução de risco de doenças crônico‑degenerativas por meio do exercício ​. Interessa‑nos observar que, mesmo atividades percebidas como desagradáveis podem ser mantidas quando os benefícios à saúde superam o desconforto, caracterizando motivação extrínseca orientada para fins de longo prazo ​.

    2. Diversão, aparência e competência: papéis secundários

    Apesar da Saúde liderar, os participantes também atribuem valor à Diversão (prazer e estímulo), Aparência (estética corporal) e Competência (desafio e domínio de habilidades). As médias desses fatores ficaram acima do ponto médio da escala, mostrando que prazeres imediatos e objetivos relacionados à imagem e à superação pessoal complementam a motivação pela saúde. Esse perfil reforça a necessidade de programas de atividade física que aliem exercícios prazeroso à metas claras de desenvolvimento de habilidade e melhoria do condicionamento físico ​.

    3. Influência de perfil demográfico e modalidade

    A análise estatística revelou diferenças significativas em alguns grupos. Mulheres e idosos valorizaram ainda mais a Saúde em relação a homens e pessoas mais jovens, respectivamente. Esse achado pode refletir maior preocupação feminina com cuidados corporais e, na terceira idade, recomendação médica mais frequente para o controle de doenças crônicas ​. Quanto ao tipo de atividade, quem pratica exercícios físicos (por exemplo, musculação e ginástica) apresentou motivação maior ligada à Aparência, enquanto participantes de esportes valorizaram mais fatores como Competência e Diversão. Além disso, praticantes acompanhados registraram médias superiores no fator Social, indicando que o convívio e o apoio mútuo reforçam a adesão ao hábito ​.

    4. O papel do aspecto social e limitações do estudo

    O fator Social foi o único avaliado abaixo do ponto médio, sugerindo que, para estes não‑atletas, o exercício não é prioritariamente uma forma de convívio. Ainda assim, para quem treina em grupo, o aspecto social ganha relevância, o que ressalta a importância de criar ambientes acolhedores em academias e grupos de caminhada. Entre as limitações, destaca‑se a amostragem de conveniência em bairros nobres de Natal e em academias, o que impede a generalização dos resultados a toda a população. Futuros estudos devem incluir variáveis como renda, tempo de prática e amostras mais diversificadas para aprofundar o entendimento das motivações à prática de atividade física ​.

    Este panorama detalhado das motivações de não‑atletas oferece subsídios para profissionais de saúde, gestores de programas de exercício e formuladores de políticas públicas. Ao combinar fatores de saúde, prazer e imagem, e ao considerar as particularidades demográficas e sociais, podemos desenvolver iniciativas mais eficazes para combater o sedentarismo e promover o bem‑estar coletivo.

  • Entre máquinas e emoções: personalidade, depressão e qualidade de vida em pacientes de hemodiálise

    Entre máquinas e emoções: personalidade, depressão e qualidade de vida em pacientes de hemodiálise

    O tratamento de insuficiência renal crônica por hemodiálise impõe restrições físicas e psicossociais que afetam o bem‑estar dos pacientes. Este artigo explora como traços de personalidade, sintomas depressivos e percepção subjetiva de qualidade de vida interagem para influenciar a adesão ao tratamento. Baseando‑se em testes de personalidade (MIPS), inventários de depressão (BDI) e de saúde (SF‑36), além de indicadores clínicos e avaliação da equipe de saúde, discutimos as principais variáveis que favorecem ou dificultam a adaptação a este regime terapêutico ​.

    Os desafios da hemodiálise

    A hemodiálise, responsável por filtrar substâncias tóxicas e excesso de líquidos, exige sessões regulares de duas a quatro horas, duas a quatro vezes por semana. Além do impacto físico óbvio, essa rotina intensa pode gerar ansiedade e desgaste emocional, afetando a motivação para comparecer e respeitar orientações dietéticas e medicamentosas. A necessidade de deslocamento frequente, somada às limitações impostas pela doença, demanda do paciente uma reorganização completa de hábitos e projetos de vida, tornando a adaptação ao tratamento um verdadeiro teste de resiliência ​.

    Personalidade e adesão terapêutica

    Traços de personalidade desempenham papel central na forma como o paciente encara as exigências do tratamento. A investigação identificou que pacientes avaliados como mais “abertos” tendem a encarar o futuro com otimismo e buscam reforço positivo em seu entorno, facilitando o vínculo com a equipe de saúde. Por outro lado, altos escores em “retraimento” e “vacilação” — características associadas à timidez, insegurança e isolamento — estiveram mais presentes entre aqueles com menor adesão à dieta e à medicação. Já a extroversão mostrou‑se aliada ao engajamento, indicando que quem é mais receptivo ao estímulo social busca maior colaboração na gestão de sua saúde ​.

    Depressão e suporte social

    A depressão é a comorbidade psiquiátrica mais frequente em pacientes em diálise, influenciando adversamente a imunidade e o cuidado pessoal. Pacientes com escores elevados no Inventário de Beck (BDI) apresentaram padrões de personalidade marcados por autocrítica intensa (“preservação”), tendência à submissão e sensação de desamparo, perpetuando um ciclo de apatia e baixa motivação. Esses sintomas agravam a dificuldade de manter práticas saudáveis, como o controle de potássio ou frequência às sessões. Nesse contexto, o suporte social — tanto familiar quanto da equipe multidisciplinar — emerge como fator decisivo para reduzir o impacto da depressão e fortalecer a adesão terapêutica ​.

    Qualidade de vida como bússola subjetiva

    Mais do que indicadores objetivos, a qualidade de vida reflete a comparação entre expectativas e experiências individuais. Instrumentos como o SF‑36 revelam que pacientes aderentes percebem melhor sua evolução e têm maior confiança em suas relações interpessoais e no tratamento. A visão subjetiva do bem‑estar inclui dimensões físicas, emocionais e sociais, variáveis ao longo do tempo e únicas para cada pessoa. Reconhecer essa subjetividade permite à equipe de saúde personalizar intervenções e reforçar a importância do apoio psicológico continuado, promovendo não apenas a sobrevida, mas a manutenção de uma vida com significado mesmo diante das limitações impostas pela doença

  • A Ciência Oculta nos Manuais: A Qualidade dos Testes Psicológicos Comercializados no Brasil

    A Ciência Oculta nos Manuais: A Qualidade dos Testes Psicológicos Comercializados no Brasil

    Este artigo investiga de que forma os instrumentos de avaliação psicológica disponíveis no mercado brasileiro apresentam informações sobre sua fundamentação científica. A partir da análise de 146 manuais de testes, foram identificados aspectos como data de publicação, editora, variáveis medidas e, principalmente, a presença de estudos de validade, precisão e padronização nacional. Os resultados indicam deficiências que podem comprometer a confiança nas avaliações psicológicas, suscitando reflexões sobre formação profissional e regulação do setor ​.

    O Panorama dos Testes Psicológicos no País

    Desde a década de 1930, o uso de instrumentos padronizados tem consolidado a Psicologia enquanto ciência aplicada ao comportamento humano. No Brasil, episódios de desconfiança — motivados tanto por críticas ao modelo tecnicista quanto por associações a práticas estrangeiras — levaram a questionamentos sobre a relevância e legitimidade dos testes na formação profissional e em contextos como seleção de pessoal, psicodiagnóstico e obtenção de carteira de habilitação ​.

    Na virada do milênio, resoluções do Conselho Federal de Psicologia (CFP) e diretrizes internacionais ressuscitaram o debate sobre requisitos mínimos para que um teste seja considerado cientificamente sólido. Aspectos tais como fundamentação teórica, evidências empíricas de validade e precisão, sistema de correção e descrição clara dos procedimentos de aplicação foram formalizados em normas nacionais e internacionais.

    Investigando Manualmente: O Que os Manuais Revelam?

    Os autores consultaram 146 instrumentos comercializados no Brasil por onze editoras, cujos manuais foram avaliados quanto a informações sobre precisão (reproducibilidade dos resultados), validade (relação entre o instrumento e o que se propõe a medir) e padronização brasileira (existência de normas nacionais de comparação) ​.

    O levantamento mostrou que apenas 28,8% dos testes relatam simultaneamente estudos de precisão, validade e padronização no Brasil, valor considerado condição mínima para a confiabilidade científica de um teste. Mesmo relaxando a exigência de padronização nacional e considerando apenas a presença conjunta de estudos de precisão e validade, esse indicador alcança apenas 41,8%. Em outras palavras, mais da metade dos instrumentos carece de fundamentação que assegure interpretações legítimas dos traços psicológicos inferidos a partir das respostas dos indivíduos ​.

    Além disso, observou‑se a predominância de três períodos de publicação dos testes originais — décadas de 1940, 1970 e 1990 — e a falta de informação sobre data de publicação em 23,3% dos manuais. Quanto à padronização brasileira, 19,2% dos instrumentos nem sequer indicam se passaram por normas nacionais, enquanto apenas 34,9% realizaram revisões normativas após 1990 ​.

    Por Que Isso Importa para Você?

    Você já parou para pensar em quantas decisões pessoais ou profissionais podem estar apoiadas em resultados de testes com qualidade duvidosa? Quando um instrumento não apresenta dados claros de validade, não há garantias de que mede aquilo que promete. Se faltar estudo de precisão, não sabemos quão confiáveis são os resultados diante de novas aplicações. Sem padronização local, comparações podem refletir padrões culturais ou populacionais inadequados, inflando diagnósticos de déficit ou patologias onde elas não existem.

    No contexto da seleção de pessoal, por exemplo, isso pode significar excluir candidatos competentes ou selecionar perfis que não correspondem à realidade. Em psicodiagnóstico, um laudo baseado em evidências frágeis contribui para tratamentos imprecisos, com impacto direto na vida dos pacientes.

    Caminhos para uma Psicologia Mais Sólida

    Os achados reforçam a necessidade de três frentes de ação:

    1. Fortalecimento da Formação em Psicometria: Incluir em currículos de graduação e pós‑graduação disciplinas que ensinem a avaliar criticamente manuais e artigos.
    2. Rigidez na Regulação: Ampliar a fiscalização e atualização contínua dos instrumentos aprovados pelo CFP, exigindo relatórios completos de estudos psicométricos.
    3. Atualização dos Manuais: Editores e autores devem republicar manuais contendo dados claros sobre fundamentos teóricos, procedimentos de aplicação, estudos de confiabilidade e normas de interpretação local.

    Somente com instrumentos cientificamente robustos e profissionais capacitados será possível garantir avaliações psicológicas que respeitem tanto o rigor metodológico quanto a complexidade do comportamento humano. A ação conjunta de pesquisadores, educadores, reguladores e psicólogos práticos é o caminho para traduzir a Psicologia brasileira em impacto real e confiável na sociedade.

  • O Impacto Silencioso: Como Disfunções Temporomandibulares Afetam Saúde Mental e Qualidade de Vida

    O Impacto Silencioso: Como Disfunções Temporomandibulares Afetam Saúde Mental e Qualidade de Vida

    As disfunções temporomandibulares (TMD) vão além de um simples estalo ao abrir a boca: elas podem alterar não só a função mastigatória, mas também o equilíbrio psicológico e o bem‑estar social dos indivíduos. Um estudo conduzido na Universidade Federal do Rio Grande do Norte analisou 43 pacientes diagnosticados segundo critérios rigorosos (RDC‑TMD) e investigou como a TMD se relaciona com indicadores de saúde mental (via General Health Questionnaire) e qualidade de vida (via WHOQOL‑BREF) ​. Os achados revelam que mesmo formas leves de TMD estão associadas a alterações emocionais e a aperfeiçoar o entendimento biopsicossocial dessa desordem pode ser crucial para tratamentos mais eficazes.

    Entendendo os transtornos temporomandibulares

    As TMD englobam condições que afetam músculos da mastigação, articulações temporomandibulares e estruturas correlatas, manifestando‑se por dor, limitação de abertura bucal e ruídos articulares. O diagnóstico padrão (RDC‑TMD axis I) classifica os pacientes em:

    • Muscular (grupo I): dor e limitação de abertura;
    • Articular (grupo II): deslocamento de disco com ou sem redução;
    • Misto (grupo III): artralgia e degeneração articular.

    No estudo, 30 pacientes apresentavam TMD mista, 9 articular e apenas 4 muscular, reforçando a prevalência de casos em que músculos e articulações coexistem em disfunção ​.

    Saúde mental e sinais sutis: a ligação com o TMD

    Embora a etiologia da TMD seja multifatorial, aspectos psicológicos têm papel fundamental na intensidade da dor e na evolução do quadro. A General Health Questionnaire (GHQ‑60) foi empregada para detectar perturbações não‑psicóticas em seis domínios, incluindo estresse, insônia e até ideias de morte. Curiosamente, o estudo encontrou maior associação entre esses sinais e TMD de gravidade leve, exceto no fator estresse (p < 0,05) ​.

    Isso sugere que, nos estágios iniciais, o desconforto pode impactar mais fortemente o estado emocional, talvez porque pacientes ainda não desenvolvam mecanismos de adaptação ou, ao contrário, minimizem sintomas em fases mais avançadas. O dado chama atenção para a necessidade de avaliação psicológica logo no diagnóstico, antes que a condição se torne crônica e menos responsiva a intervenções multidisciplinares.

    Qualidade de vida comprometida: evidências e implicações

    Para mensurar a qualidade de vida, foi utilizado o instrumento WHOQOL‑BREF, que avalia domínios físico, psicológico, social e ambiental. Destacam‑se dois achados principais:

    1. Domínio social e deslocamento de disco com redução (grupo II): pacientes relatam constrangimento em ambientes públicos devido a estalos audíveis ao mastigar (p = 0,01) ​.
    2. Domínio físico, TMD mista e leve: dor e limitação funcional acarretam maior percepção de esforço nas atividades diárias mesmo em graus moderados de disfunção (p = 0,037 e p = 0,042, respectivamente) ​.

    Esses resultados sublinham que a TMD não é apenas uma condição odontológica: ela interfere em relações interpessoais, autoestima e desempenho no trabalho ou na escola. A mobilização de uma equipe composta por dentistas, fisioterapeutas e psicólogos pode promover abordagens integradas, tratando tanto a dor articular quanto os aspectos emocionais.

    A pesquisa reforça a importância de olhar para a TMD sob uma ótica bio‑psicossocial, considerando que sinais iniciais podem prenunciar comprometimentos mais amplos de saúde mental e qualidade de vida. Integrar ferramentas como o GHQ e o WHOQOL‑BREF ao protocolo clínico permite mapear precocemente fatores de risco e desenhar estratégias personalizadas, humanas e eficazes de reabilitação.

  • Perdas da capacidade funcional em idosos institucionalizados no município de Natal/RN

    Perdas da capacidade funcional em idosos institucionalizados no município de Natal/RN

    A breve jornada da independência na terceira idade revela-se em cada atividade cotidiana: alimentar‑se, vestir‑se, locomover‑se e cuidar de si com autonomia. Um estudo realizado em 2012 numa instituição de longa permanência para idosos em Natal (RN) lançou luz sobre como a perda funcional se distribui entre aqueles que nela residem. A pesquisa de Azevedo et al. examinou o perfil de 48 moradores, identificando os pontos de fragilidade física e cognitiva que condicionam a dependência e orientam estratégias de cuidado centradas na qualidade de vida ​.

    Entendendo a capacidade funcional

    Capacidade funcional refere‑se à habilidade de manter as atividades de vida diária sem auxílio – um indicador crucial de saúde e autonomia na velhice. Com o aumento da longevidade, doenças crônico‑degenerativas se tornam mais prevalentes, limitando essas funções básicas e aumentando a necessidade de assistência ​. Avaliar essa capacidade permite não apenas mapear riscos individuais, mas também direcionar intervenções preventivas e reabilitadoras.

    Como foi feita a pesquisa

    Em caráter descritivo e quantitativo, o estudo aplicou entrevistas, o Índice de Katz e o Mini Exame do Estado Mental (MEEM) a 48 dos 108 idosos inicialmente considerados, excluindo‑se aqueles com comprometimento cognitivo severo. O Índice de Katz avalia seis funções diárias – banho, vestir, ir ao banheiro, transferir‑se, continência e alimentação – classificando os indivíduos como independentes, parcialmente dependentes ou totalmente dependentes ​. Essa combinação de ferramentas robustas garantiu que os dados refletissem tanto o estado físico quanto o cognitivo, essenciais para entender as nuances da dependência.

    Principais achados

    Os resultados apontaram que a maior parte dos participantes mantinha elevado grau de independência em ao menos cinco das seis tarefas avaliadas, sugerindo que muitos residentes ainda conservam boa autonomia. No entanto, identifica‑se um grupo relevante com dependência parcial ou total, sobretudo nas atividades mais complexas de vestir‑se e banhar‑se. As mulheres, especialmente na faixa acima de 80 anos, apresentaram maiores índices de dependência quando comparadas aos homens, evidenciando diferenças de gênero no envelhecimento saudável. Curiosamente, os idosos mais velhos (80–89 anos) mostraram, em média, mais independência do que faixas etárias ligeiramente inferiores, um dado que contraria a expectativa de declínio uniforme com a idade ​.

    Por que isso importa

    Compreender onde ocorrem as maiores dificuldades cotidianas em idosos institucionalizados é fundamental para profissionais de saúde e familiares. Estratégias de promoção de mobilidade, exercícios dirigidos e estímulos cognitivos podem ser planejados com base nesses perfis, retardando o avanço da dependência e promovendo bem‑estar. Além disso, o uso sistemático de instrumentos como Katz e MEEM facilita o diálogo entre equipes multiprofissionais, assegurando que cada mudança funcional seja registrada e acompanhada ao longo do tempo ​.

    Por fim, a pesquisa evidencia que envelhecer com autonomia não é apenas questão de idade, mas de contextos sociais, econômicos e de estímulo constante. Ao mapear perdas e competências, este estudo orienta a criação de ambientes mais promotores de independência, onde cada idoso possa conservar ao máximo sua dignidade e qualidade de vida.

    Citação do artigo:
    DE ARAÚJO NUNES, Vilani Medeiros; DE MENEZES, Rejane Maria Paiva; ALCHIERI, João Carlos. Avaliação da qualidade de vida em idosos institucionalizados no município de Natal, Estado do Rio Grande do Norte. Acta Scientiarum. Health Sciences, v. 32, n. 2, p. 119-126, 2010.