Descobrindo o que nos move: razões que levam não‑atletas a praticar atividade física

A prática regular de atividade física traz inúmeros benefícios à saúde, mas entender o que realmente motiva as pessoas a sair do sedentarismo é fundamental para criar estratégias eficazes de promoção de hábitos saudáveis. Gonçalves e Alchieri (2010) investigaram esse tema em 309 praticantes não‑atletas de Natal (RN), aplicando a escala MPAM‑R, que avalia cinco motivos: Saúde, Diversão, Aparência, Competência e Social. Os resultados revelaram a Saúde como principal fator motivacional, seguidos por Diversão, Aparência e Competência, com o aspecto Social ficando em último lugar. Este artigo explora em detalhes essas descobertas, relacionando‑as a variáveis demográficas e ao tipo de atividade praticada. ​

1. Fatores que impulsionam a adesão à atividade física

A Teoria da Autodeterminação, base para a escala MPAM‑R, distingue motivações intrínsecas (como Diversão e Competência) de extrínsecas (como Saúde e Aparência). No estudo, a média mais alta no fator Saúde indica que a busca por bem‑estar físico e prevenção de doenças é o principal motor para a maioria dos participantes. A importância da Saúde como motivação primária está alinhada com dados da Organização Mundial da Saúde sobre redução de risco de doenças crônico‑degenerativas por meio do exercício ​. Interessa‑nos observar que, mesmo atividades percebidas como desagradáveis podem ser mantidas quando os benefícios à saúde superam o desconforto, caracterizando motivação extrínseca orientada para fins de longo prazo ​.

2. Diversão, aparência e competência: papéis secundários

Apesar da Saúde liderar, os participantes também atribuem valor à Diversão (prazer e estímulo), Aparência (estética corporal) e Competência (desafio e domínio de habilidades). As médias desses fatores ficaram acima do ponto médio da escala, mostrando que prazeres imediatos e objetivos relacionados à imagem e à superação pessoal complementam a motivação pela saúde. Esse perfil reforça a necessidade de programas de atividade física que aliem exercícios prazeroso à metas claras de desenvolvimento de habilidade e melhoria do condicionamento físico ​.

3. Influência de perfil demográfico e modalidade

A análise estatística revelou diferenças significativas em alguns grupos. Mulheres e idosos valorizaram ainda mais a Saúde em relação a homens e pessoas mais jovens, respectivamente. Esse achado pode refletir maior preocupação feminina com cuidados corporais e, na terceira idade, recomendação médica mais frequente para o controle de doenças crônicas ​. Quanto ao tipo de atividade, quem pratica exercícios físicos (por exemplo, musculação e ginástica) apresentou motivação maior ligada à Aparência, enquanto participantes de esportes valorizaram mais fatores como Competência e Diversão. Além disso, praticantes acompanhados registraram médias superiores no fator Social, indicando que o convívio e o apoio mútuo reforçam a adesão ao hábito ​.

4. O papel do aspecto social e limitações do estudo

O fator Social foi o único avaliado abaixo do ponto médio, sugerindo que, para estes não‑atletas, o exercício não é prioritariamente uma forma de convívio. Ainda assim, para quem treina em grupo, o aspecto social ganha relevância, o que ressalta a importância de criar ambientes acolhedores em academias e grupos de caminhada. Entre as limitações, destaca‑se a amostragem de conveniência em bairros nobres de Natal e em academias, o que impede a generalização dos resultados a toda a população. Futuros estudos devem incluir variáveis como renda, tempo de prática e amostras mais diversificadas para aprofundar o entendimento das motivações à prática de atividade física ​.

Este panorama detalhado das motivações de não‑atletas oferece subsídios para profissionais de saúde, gestores de programas de exercício e formuladores de políticas públicas. Ao combinar fatores de saúde, prazer e imagem, e ao considerar as particularidades demográficas e sociais, podemos desenvolver iniciativas mais eficazes para combater o sedentarismo e promover o bem‑estar coletivo.

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