O tratamento de insuficiência renal crônica por hemodiálise impõe restrições físicas e psicossociais que afetam o bem‑estar dos pacientes. Este artigo explora como traços de personalidade, sintomas depressivos e percepção subjetiva de qualidade de vida interagem para influenciar a adesão ao tratamento. Baseando‑se em testes de personalidade (MIPS), inventários de depressão (BDI) e de saúde (SF‑36), além de indicadores clínicos e avaliação da equipe de saúde, discutimos as principais variáveis que favorecem ou dificultam a adaptação a este regime terapêutico .
Os desafios da hemodiálise
A hemodiálise, responsável por filtrar substâncias tóxicas e excesso de líquidos, exige sessões regulares de duas a quatro horas, duas a quatro vezes por semana. Além do impacto físico óbvio, essa rotina intensa pode gerar ansiedade e desgaste emocional, afetando a motivação para comparecer e respeitar orientações dietéticas e medicamentosas. A necessidade de deslocamento frequente, somada às limitações impostas pela doença, demanda do paciente uma reorganização completa de hábitos e projetos de vida, tornando a adaptação ao tratamento um verdadeiro teste de resiliência .
Personalidade e adesão terapêutica
Traços de personalidade desempenham papel central na forma como o paciente encara as exigências do tratamento. A investigação identificou que pacientes avaliados como mais “abertos” tendem a encarar o futuro com otimismo e buscam reforço positivo em seu entorno, facilitando o vínculo com a equipe de saúde. Por outro lado, altos escores em “retraimento” e “vacilação” — características associadas à timidez, insegurança e isolamento — estiveram mais presentes entre aqueles com menor adesão à dieta e à medicação. Já a extroversão mostrou‑se aliada ao engajamento, indicando que quem é mais receptivo ao estímulo social busca maior colaboração na gestão de sua saúde .
Depressão e suporte social
A depressão é a comorbidade psiquiátrica mais frequente em pacientes em diálise, influenciando adversamente a imunidade e o cuidado pessoal. Pacientes com escores elevados no Inventário de Beck (BDI) apresentaram padrões de personalidade marcados por autocrítica intensa (“preservação”), tendência à submissão e sensação de desamparo, perpetuando um ciclo de apatia e baixa motivação. Esses sintomas agravam a dificuldade de manter práticas saudáveis, como o controle de potássio ou frequência às sessões. Nesse contexto, o suporte social — tanto familiar quanto da equipe multidisciplinar — emerge como fator decisivo para reduzir o impacto da depressão e fortalecer a adesão terapêutica .
Qualidade de vida como bússola subjetiva
Mais do que indicadores objetivos, a qualidade de vida reflete a comparação entre expectativas e experiências individuais. Instrumentos como o SF‑36 revelam que pacientes aderentes percebem melhor sua evolução e têm maior confiança em suas relações interpessoais e no tratamento. A visão subjetiva do bem‑estar inclui dimensões físicas, emocionais e sociais, variáveis ao longo do tempo e únicas para cada pessoa. Reconhecer essa subjetividade permite à equipe de saúde personalizar intervenções e reforçar a importância do apoio psicológico continuado, promovendo não apenas a sobrevida, mas a manutenção de uma vida com significado mesmo diante das limitações impostas pela doença




